Ryan Gosling se divide como mecânico, dublê e piloto de fuga de assaltantes em "Drive"
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Ryan Gosling em cena do filme "Drive", de Nicolas Winding Refn
O protagonista de "Drive", conhecido no filme apenas como Driver (motorista), é um homem de poucas palavras, que expressa no rosto neutro de seu intérprete (Ryan Gosling, de "Tudo pelo Poder") sua incredulidade diante do mundo e das pessoas.
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Ele trabalha como dublê de filmes de ação nas cenas que envolvem carros e também como mecânico -e engorda o orçamento como piloto de fuga de assaltantes. Talvez seja o contrário, ele é realmente piloto de fuga e ser dublê e mecânico seriam apenas bicos. Manter essa ambiguidade é um dos pontos fortes do enredo.
A ausência de nome para o personagem indica que é um filme sobre determinismo. O protagonista é o que e quem é por conta do trabalho que realiza- e não o contrário. O diretor Nicolas Winding Refn e o roteirista Hossein Amini parecem insinuar que ele foi escolhido por esses trabalhos, e não o contrário.
Alguns diálogos dão conta de fatos importantes de seu passado, mas este não precisa ser explicitado. "Drive" é um filme sobre o presente, sobre o aqui e o agora do personagem e, exatamente por isso, não busca justificativas ou explicações para ele, o que injeta uma forte carga existencial no personagem.
Sua solidão é idêntica à de alguns ícones do passado -quem vem à mente com força é Alain Delon em "Le Samurai", ou um cavaleiro solitário de western, especialmente o protagonista de "Shane - Os Brutos Também Amam", Alan Ladd.
A ligação dele com sua vizinha, Irene (Carey Mulligan, de "Não Me Abandone Jamais") e o pequeno filho dela são o sinal de que falta algo na vida de Driver.
Uma família? Talvez nem tanto, seria mais exatamente essa necessidade de se conectar com pessoas de verdade, não apenas aos ladrões que ele conduz na fuga, ou diretores e agentes de cinema com quem trabalha.
O vazio de sua vida está em cima das quatro rodas de seu carro. Mas Irene espera o marido (Oscar Isaac), que está preso. Isso, claro, irá atrapalhar os planos e futuro do protagonista, mas não da forma mais óbvia que se poderia imaginar.
A personagem feminina, Irene, é o contraponto, é a delicadeza e o sopro de ar fresco que faltam à vida do protagonista. Há também uma femme fatale (Christina Hendricks, da série "Mad Men"), envolvida num assalto que dá errado e que deixa atrás de si um rastro de sangue.
O diretor Winding Refn fez um filme de gênero que, ao mesmo tempo, joga com as suas regras e as subverte. O filme rendeu ao dinamarquês o prêmio de direção no Festival de Cannes, em maio de 2011.