Dana White não manda sozinho no UFC, mas se transformou na imagem da marca Ele não usa ternos caros e não faz com quem ninguém tenha de beijar sua mão, no estilo Don Corleone. Ainda assim, ganhou o status de “Poderoso Chefão”, capaz de fazer seus “comandados” demonstrarem da simples fidelidade ao temor. Após uma década à frente do UFC, o presidente Dana White, 41, é a figura mais famosa do evento fora do octógono, arrebatando seus próprios fãs e fazendo do seu rosto a imagem da organização. Mas nem sempre as coisas foram assim. O norte-americano teve de superar rixas, ignorar crises financeiras e construir uma imagem que lembra a de um pai durão. E foi desta maneira que conseguiu se transformar em unanimidade dentro do UFC, conquistando se não a amizade, ao menos o respeito profissional dos lutadores e empresários. Primeiramente, é bom deixar claro. Quem realmente dá a última palavra no UFC não é Dana White, mas os irmãos Fertitta. Por meio da empresa Zuffa, eles compraram em 2001 a marca criada por Rorion Gracie, por US$ 2 milhões, e colocaram o empresário na presidência da organização, hoje avaliada em US$ 1 bilhão. Mas no papel principal de administrador e sócio minoritário, o norte-americano já é considerado um dos mais ousados e eficientes do mundo dos negócios. O UOL Esporte falou com lutadores e empresários para mostrar quem é Dana White, na voz de quem trabalha com ele, buscando entender o porque de ele ter chegado onde está hoje. Um dos fatores que levaram o UFC ao sucesso, ao lado de seu tino nos negócios, é a paixão pelas lutas. Nascido em Manchester, Connecticut (EUA), Dana é um ex-lutador de boxe amador que também se aventurou em artes marciais voltadas ao chão. E o detalhe é que é ele próprio quem dá a cara a bater, sendo “onipresente” nos eventos que realiza. Daí vem a imagem de poderoso chefão, a daquele carequinha que observa os lutadores em dia de pesagem, saindo em cada foto com semblante de cobrança: eles sabem que tem de dar espetáculo no octógono, ou vão levar um pito do comandante. Para muitos dos que têm de entrar no ringue, a cobrança é a característica mais marcante quando se lembra de Dana White, assim como o fato de ele falar o que pensa, na hora que pensa. “Dana é um cara sério, que não mede palavras e fala o que pensa, seja para quem for”, explica o peso pesado Júnior Cigano, que conviveu com o chefe na filmagem do reality show "The Ultimate Fighter" (TUF), em que foi técnico. “Bronca eu nunca levei, mas à vezes ele lança um olhar mais sério e você já sabe que fez algo que ele não gostou.” “Se você treina bem, pesa no limite e luta bem, vai ser tratado com justiça”, afirma Forrest Griffin, vencedor da primeira edição do TUF, reality show que colocou o presidente ainda mais em evidência, aparecendo rotineiramente na TV norte-americana. “Ele espera muito, mas paga muito bem também (risos). Desde o TUF o Dana melhorou, tornou-se melhor em se comunicar, ficou mais confortável à frente das câmeras. Mas, como pessoa, é o mesmo cara”. Já acostumado a tratar a imprensa e se comunicar com os fãs - hoje tem 1,5 milhão de seguidores no Twitter -, Dana White nem sempre foi o simpático dirigente que parece ser na maior parte do tempo. Em 2009, discutiu asperamente com uma repórter e o papelão foi parar em vídeo na internet, com direito a acusação de usar termos homofóbicos. Dentro de seu plantel de lutadores, alguns já tiveram externadas suas indiferenças com o chefe. Tito Ortiz, que antes do UFC teve Dana como empresário, é um deles. Quando o lutador foi técnico do TUF, em 2006, Dana White disse com todas as letras odiar o lutador, mas manteve a postura profissional durante todo o programa e até hoje Ortiz segue lutando pelo UFC, driblando a aposentadoria. Principalmente para quem perde, o papel de vilão surge com mais intensidade. Astros como Chuck Lidell conviveram com a ameaça da aposentadoria, ouvindo críticas ácidas do chefe. E até para quem vence é possível ficar na corda bamba. Anderson Silva derrotou Demian Maia no UFC 112, mas debochou do rival dentro do octógono. Como resultado, Dana publicamente censurou a atitude do campeão dos médios e exigiu uma mudança no seu comportamento, sob o risco de obrigá-lo a deixar o UFC. Até por este caso, Anderson é um dos lutadores que mais mostra distanciamento em relação ao chefe. "Nós devemos parte do crescimento do MMA ao Dana e ao Lorenzo, que fazem um trabalho espetacular no UFC, mas junto com os lutadores que escreveram a história do evento. É uma via de duas mãos. Não haveria UFC sem os grandes lutadores que passaram pelo UFC", opina o campeão dos médios. Mas nem tudo são lutas e lutadores. Além da visão do esporte em si, como modalidade, o UFC virou um produto maior, com desmembramentos como o TUF, as exposições para os fãs - com vendas de centenas de produtos ligados à marca -, os games e até suas ring girls. E não é só, o evento está em um momento de expansão, com as aquisições do Strikeforce e do WEC, e globalização, apostando na volta ao Brasil em agosto e já com planos de realizar uma programação no Japão. Com esta atual conjuntura, como o próprio Dana White já afirmou, o céu é o limite para o UFC. Resta sentar e assistir aos próximos capítulos da saga deste Don Corleone do mundo das lutas.Dana White deixa rixas no passado e vira unanimidade como 'Poderoso Chefão'
Maurício Dehò
Em São Paulo
PAIXÃO PELAS LUTAS MOVE CHEFÃO
Com isso, ele acabou abrindo academias em Las Vegas e se tornou empresário de Tito Ortiz e Chuck Lidell. Neste período, ficou sabendo da venda do UFC e avisou ao amigo de infância Lorenzo Fertitta. Em pouco tempo, a compra foi feita e a organização passou a crescer com força a partir da edição 30. O terceiro pilar da empresa é Joe Silva, vice-presidente e matchmaker, quem que escolhe os confrontos que serão realizados.